Hipertensão Arterial

O dia 26 de Abril, Dia Nacional de Combate a Hipertensão Arterial, foi a data selecionada para chamar a atenção e conscientizar a população da importância do tratamento e prevenção desta condição.

A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é o principal fator de risco modificável para doenças cardiovasculares, que por sua vez constituem a principal causa de mortalidade em nosso país e no mundo. Estima-se que apenas a hipertensão isoladamente seja responsável por cerca de 14% das mortes no mundo. A prevalência chega a ser superior a 60% nos indivíduos com mais de 65 anos, sendo que essa incidência vai aumentando com o decorrer da idade. Pelo fato de constituir condição na maior parte das vezes assintomática, muitos portadores desconhecem seu diagnóstico.

Diagnóstico

O diagnóstico correto e precoce é fundamental uma vez que os benefícios do tratamento são incontestáveis, a citar alguns: há redução importante de mortalidade por doenças cardiovasculares, redução de acidente vascular cerebral, insuficiência renal e de desenvolvimento de demência.

Para o correto diagnóstico da HAS recomenda-se a aferição da pressão arterial (PA) nas posições sentada, deitada e em pé. Essa aferição deve ser feita rotineiramente nas consultas ambulatoriais. A HAS é definida por uma pressão arterial sistólica (PAS) acima de 140 mmHg ou uma pressão arterial diastólica acima de 90 mmHg. Como ocorrem oscilações naturais dos valores de PA ao decorrer do dia, algumas vezes a medida residencial da pressão arterial pode se tornar útil no diagnóstico e acompanhamento do tratamento da HAS.

A investigação complementar com exames laboratoriais e de imagem se faz necessária para o rastreio de complicações já estabelecidas da hipertensão, bem como de outras condições que possam interferir no tratamento ou contraindicar o uso de certos anti-hipertensivos.

Tratamento

Tratamento medicamentoso

O tratamento farmacológico deve ser realizado em associação às medidas não farmacológicas (mudanças do estilo de vida). As medicações devem ser tomadas diariamente, no mesmo horário, sozinhas ou em associação. É importante esclarecer ao paciente a importância de manter a adesão ao tratamento ainda que o mesmo não apresente qualquer sintoma advindo da hipertensão, por se tratar de uma doença predominantemente assintomática e na qual os benefícios do tratamento serão colhidos a longo prazo.

Não medicamentoso

Mudanças de estilo de vida constituem pilar fundamental na abordagem do paciente. Apesar disso, na prática clínica observamos que infelizmente estas estratégias são muito subutilizadas. Constitui-se primordialmente da prática de atividade física, adaptação da dieta e cessação do tabagismo e redução da ingestão de álcool. Pode ser estratégia usada sozinha no tratamento inicial da HAS leve ou em combinação com medicamentos.

A tabela abaixo demonstra o quanto cada atitude é capaz de ajudar no controle pressórico:

Modificações no estilo de vida e controle pressórico

PAS: pressão arterial sistólica.
Fonte: II Diretrizes Brasileiras em Cardiogeriatria.

A dieta mais estudada como adjuvante do tratamento da HAS é a dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) que consiste em uma alimentação rica em frutas, hortaliças, fibras, minerais e laticínios com baixos teores de gordura. Esta dieta é composta de quatro a cinco porções de frutas, quatro a cinco porções de vegetais, duas a três porções de lácteos com baixo teor de gordura por dia e < 25% de gordura por dia. Outros estudos também já observaram melhora dos níveis pressóricos em adeptos da Dieta do Mediterrâneo, que consiste no consumo elevado de alimentos frescos e naturais como legumes e frutas, baixo consumo de carne vermelha, álcool e produtos industrializados.

Reduções da ingestão de sal seja na preparação de alimentos, e principalmente no consumo de alimentos industrializados com altos teores de sódio (chegam a corresponder a quase 77% do sódio ingerido no dia), também são ponto crucial na estratégia dietética. Um pouco mais esquecidos, potássio e magnésio também exercem papel na regulação da pressão, de modo que seu consumo mais elevado através da alimentação pode ser benéfico. É importante o aconselhamento médico e nutricional para ajustes destes elementos na dieta.

O exercício físico talvez seja o mais importante aliado no controle da hipertensão e há inúmeros estudos comprovando esta tese. Quanto maior o condicionamento físico do indivíduo, menores as chances de se desenvolver hipertensão, no entanto uma “simples” caminhada de 40 minutos ao dia pode já auxiliar na redução dos níveis pressóricos. É interessante pontuar que o benefício da atividade física ocorre a despeito da perda de peso que costuma acompanhar a estratégia – seu efeito hipotensor foi observado tanto em indivíduos com índice de massa corpórea (IMC) elevado, quanto nos pacientes com IMC normal. Também é importante lembrar que as vantagens advindas da atividade física regular extrapolam muito a redução de PA, e inclusive nos pacientes idosos, tem papel na melhora da cognição, distúrbios do humor, prevenção de sarcopenia, quedas e de dependência funcional.

O adequado manejo de stress e ansiedade são medidas talvez menos discutidas, mas não menos importantes no controle da hipertensão. Episódios de stress e ansiedade elevam as médias de pressão arterial por ativarem vias neuronais que liberam adrenalina e cortisol, os ditos “hormônios do stress”.

É comum observarmos uma baixa adesão às estratégias não farmacológicas de tratamento naqueles pacientes que já estão em uso de remédios anti-hipertensivos, por julgarem que a pressão “já está controlada”. Neste caso, cabe aos profissionais reforçar que há benefícios que extrapolam aferições de PA. Além disso, as medidas não farmacológicas contribuirão para reduzir ainda mais as médias e possivelmente até livrar o paciente do uso de medicamentos ou reduzir suas doses. Mudanças no estilo de vida são dinâmicas e devem ser sustentadas. Necessitam motivação e educação contínua do paciente. É sabido que uma maior frequência de consultas médicas com um profissional com que o paciente estabelece um bom vínculo, aumenta muito as chances de o paciente aderir às modificações propostas e ter êxito em seu tratamento. Não há como atingir um resultado ideal no tratamento da hipertensão com apenas uma estratégia, ou com apenas um remédio, mas sim com ações diversificadas e com um olhar holístico.

Autora

Dra Mariel Corrêa
CRM 168475
Clínica Médica e Geriatria pela Escola Paulista de Medicina -Universidade Federal de São Paulo (EPM-UNIFESP).
Atuação: Beneficência Portuguesa, H. Israelita Albert Einstein, H. Sírio Libanês e H. 9 de Julho.
Consultório: Higienópolis Medical Center – Rua Mato Grosso, 306, conjunto 504. Tel 3661-5130.

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