Memória no envelhecimento: a história de um corpo perdido no mundo

No segundo capítulo do seu livro, Oliver Sacks menciona a citação do escritor espanhol Luis Buñuel: “É preciso começar a perder a memória para se dar conta que é essa memória que compõe toda a nossa vida. Uma vida sem memória não é uma vida (…). Ela é nossa coerência, nossa razão, nosso sentimento e até mesmo nossa ação. Sem ela nós não somos nada”.

Mas afinal de contas o que é a memória? E por que ela pode afetar tanto a nossa vida?

Memória é a capacidade que a pessoa tem de reter e armazenar informações, por um intervalo mais ou menos longo e de resgatá-las quando é preciso. Estas informações podem ser o nome de uma pessoa, o caminho entre sua casa e a padaria ou os passos aprendidos na última aula de zumba. Elas são organizadas no nosso cérebro assim como livros são organizados nas prateleiras de uma biblioteca. Cada tipo de livro é guardado em uma prateleira e em um corredor específicos. Na memória não é diferente. Cada informação é estocada em um tipo de memória por um tempo determinado e em relação ao tipo de informação a ser armazenada. Afinal de contas, um livro de medicina nunca será guardado na prateleira de geografia não é mesmo?

Essa complexa função cognitiva é comandada por regiões específicas do cérebro e sofrem influência do envelhecimento. Este refere-se a um processo universal, gradual, evolutivo, único e multifatorial no qual cada pessoa terá uma experiência única. É por isso que algumas pessoas podem ter alterações severas de memória precocemente enquanto outras expressarão o avanço cronológico apenas na carteira de identidade. O tipo e o nível do déficit de memória relacionados ao envelhecimento são de ordem multifatorial e podem estar relacionados a fatores genéticos, estilo de vida, patologias associadas, entre outros fatores.

A reabilitação de idosos com alteração de memória envolvem uma complexa dinâmica entre aspectos motores e cognitivos que precisa ser avaliada adequadamente para garantir a independência e autonomia do paciente. Um dos maiores desafios nesses casos é garantir que os idosos reproduzam os exercícios feitos em terapia em seus domicílios. Uma forma de facilitar esse processo de armazenamento e recuperação das informações é utilizar estímulos com conteúdo emocional (ex: fotos dos netos, imagens do time de futebol preferido, objetos relacionados à profissão do paciente) durante a realização das atividades terapêuticas.

A literatura também demonstra efeitos positivos da atividade física na memória. No entanto, os achados indicam uma especificidade em relação ao tipo de exercício e ao tipo de memória. De acordo com uma revisão sistemática de 2018, exercícios de moderada a alta intensidade geram benefícios em tipos específicos de memória. Embora ainda não exista um consenso sobre como essa atividade deve ser realizada, esse mesmo estudo sugere que o treino deve ter uma duração de 46-60 minutos por pelo menos 6 meses.

1. Breedlove, S. M., Rosenzweig, M. R., & Watson, N. V. (2012). Psychobiologie. De la biologie du neurone aux neurosciences comportementales, cognitives et cliniques. Bruxelles: De Boeck.
2. Giffard, B., Desgranges, B., & Eustache, F. (2001). Le vieillissement de la mémoire: vieillissement normal et pathologique. Gérontologie et société, 24(2), 33-47.
3. Erickson, K. I., Hillman, C., Stillman, C. M., Ballard, R. M., Bloodgood, B., Conroy, D. E., & Powell, K. E. (2019). Physical activity, cognition, and brain outcomes: a review of the 2018 physical activity guidelines. Medicine & Science in Sports & Exercise, 51(6), 1242-1251.

Kelly Jesus Santana

CREFITO3/ 120118-F

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