Assim como muitas outras doenças progressivas, a Esclerose Múltipla (EM) é tratada pela comunidade com muito receio e diversos tabus, aumentando o preconceito e disseminando informações erradas sobre a doença. Por isso, vamos aproveitar o “agosto laranja” para explicar melhor sobre ela e quebrar alguns mitos!
Trata-se de uma doença de múltiplos aspectos clínicos, ou seja, com diferentes sinais e sintomas, o que dificulta seu diagnóstico e tratamento. Afeta o sistema nervoso central, especialmente o cérebro e a medula espinhal, podendo gerar sintomas motores, sensitivos, cognitivos e/ou autonômicos, dependendo da região e da extensão das lesões. Portanto, as pessoas podem apresentar dificuldade para caminhar, alterações de sensibilidade nos membros, visão embaçada ou dupla, alterações de memória e compreensão, dificuldade no controle da urina e muitos outros sintomas. Diante do mesmo diagnóstico, cada indivíduo terá seus próprios sintomas e é importante compreender cada um frente à sua individualidade!
A ciência acredita que são necessários diversos fatores para que uma pessoa desenvolva a EM. Assim, uma pessoa geneticamente predisposta à doença, quando exposta a fatores ambientais específicos pode desenvolvê-la. Dentre os diversos fatores ambientais relatados na literatura, podemos destacar a deficiência de vitamina D, infecções virais e questões dietéticas.
Trata-se de uma doença auto-imune, isso significa que o sistema imunológico ataca o próprio organismo. Esse ataque ocorre inicialmente na bainha de mielina, ocasionando sua destruição. A bainha de mielina reveste uma parte essencial do neurônio, o axônio, e é responsável pela condução rápida dos impulsos nervosos; sua perda ocasiona movimentos mais lentos, por exemplo.
Ocorre mais comumente em adultos em torno dos 30 anos, especialmente mulheres, os quais podem se sentir incapacitados de realizar suas tarefas diárias, trabalho e lazer devido as limitações físicas, fadiga e dor impostas pela doença.
Existem diversas formas de progressão da EM, sendo que a Remitente Recorrente é a mais comum. Nela, o indivíduo apresenta surtos de duração variável, com piora clínica e aparecimento de novos sintomas. Em seguida, os sintomas são abrandados podendo até mesmo desaparecer totalmente em alguns casos. O indivíduo poderá apresentar diversos surtos ao longo da vida, podendo acumular deficiências, por isso é de grande importância reduzir a quantidade de surtos tanto quanto for possível.
Há alguns anos, o controle da EM era muito difícil, sendo o prognóstico especialmente ruim. Ainda não há cura, porém com as intervenções atualmente disponíveis é possível reduzir a frequência dos surtos e lentificar a progressão da doença.
A fisioterapia é parte essencial do tratamento e permite maior qualidade de vida e redução das limitações decorrentes da doença. Antigamente, a atividade física era contra-indicada, mas atualmente está comprovado que os exercícios, inclusive os aeróbios e os de fortalecimento com incremento de carga, são extremamente benéficos e além de tudo auxiliam na redução da frequência dos surtos. Claro que, os exercícios devem ser bem direcionados e supervisionados, sendo imprescindível a prescrição individualizada e direcionada aos objetivos específicos de cada paciente, sempre respeitando suas limitações e monitorando a sensação de fadiga.
Portanto, apesar da EM ser uma doença progressiva, atualmente é possível ter uma excelente qualidade de vida! Para isso, é preciso compreender a doença e seu curso natural e apoiar-se em uma equipe profissional experiente e capacitada.
DALGAS, U. et al. Exercise as Medicine in Multiple Sclerosis—Time for a Paradigm Shift: Preventive, Symptomatic, and Disease-Modifying Aspects and Perspectives. Curr Neurol Neurosci Rep, nov. 2019.
FILIPPI, M. et al. Brain mapping in multiple sclerosis: Lessons learned about the human brain. NeuroImage, sep. 2017.
HELDNER, M. R. et al. Coin rotation task: a valid test for manual dexterity in multiple sclerosis. Phys Ther, v. 94 (11), p. 1644-51, nov. 2014.
IWANOWSKI, P; LOSY, J. Immunological differences between classical phenothypes of multiple sclerosis. J Neurol Sci, v. 349 (1-2), p. 10-14, feb. 2015.
SOCIE, M. J.; SOSNOFF, J. J. Gait variability and multiple sclerosis. Mult Scler Int, mar. 2013.